Arnaldo Jabor recebeu elogios por um texto sobre bunda que circulou como se fosse seu: ficou indignado.
Se você ainda não recebeu na sua caixa de e-mail - o que é apenas uma questão de tempo -, certamente já ouviu de algum amigo comentários sobre aquele texto superinteressante, engraçadíssimo, daqueles que dizem tudo que qualquer mortal gostaria de desabafar: Putz, esse Millôr Fernandes é mesmo um gênio, só ele para escrever sobre palavrões dessa forma, você chega a pensar. Acontece que Millôr nunca escreveu PN sobre o assunto, e ainda fica pê da vida quando alguém comenta ter adorado o texto que exalta a utilidade dos termos de baixo calão na comunicação cotidiana dos simples mortais.
O tal texto intitulado "O direito ao palavrão", que circula pela rede há um tempão, é um apócrifo como tantos outros que ganham credibilidade por levarem a assinatura de nomes importantes da literatura brasileira e mundial. Editora do caderno semanal de informática do jornal O Globo, a jornalista Cora Rónai resolveu lançar luz sobre o assunto e organizou o divertido, mas que não deixa de ser sério, "Caiu na rede", no qual apresenta textos atribuídos a gente como Luis Fernando Verissimo, Arnaldo Jabor, João Ubaldo Ribeiro, Gabriel García Márquez, Caetano Veloso, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Luis Borges, entre outros.
O argentino Borges é outra vítima da sanha dos autores desconhecidos com o rodadíssimo Instantes. "Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas pessoas me levariam a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais...". E por aí vai, com Borges provavelmente se revirando no túmulo.
Contra-ataque - Outro texto famosérrimo é o de Arnaldo Jabor, digo, atribuído a ele, sobre a bunda. "Tenho horror à mulher perfeitinha. Sabe aquele tipo que faz escova toda manhã, tá sempre na moda e é tão sorridente que parece garota propaganda de processo de clareamento dentário? E, só para piorar, tem a bunda dura? Pois então, mulheres assim são um porre. Pior: são brochantes." Revoltado, Jabor pariu a crônica "Eu não escrevi `Bunda dura´", publicada em O Estado de S. Paulo, em 2004, sem disfarçar a indignação.
"Fico louco, porque estou sendo elogiado justamente pelo que não fiz. Toda semana tento ser inteligente, escrevo sobre o Bush, a crise internacional, espremo meus pobres conhecimentos filosóficos ou sociológicos, capricho na língua, tudo para ser chamado de `profundo´ e aí, `Bunda dura´ vem e é meu Prêmio Jabuti, minha medalha", vocifera.
Mais original foi o baiano Ubaldo, vitimado com o texto "Precisa-se de matéria-prima para construir um país", que diz que o problema do Brasil não são seus governantes e, sim, o povo. "Estou lhe mandando o texto abaixo porque está circulando na internet como meu e, antes que você tome um susto ao eventualmente recebê-lo, quero explicar que não tem nada de meu, eu não escreveria esse negócio nunca. Até o detalhe de molhar a mão do guarda é inverídico, porque não tenho carteira e não dirijo mais há uns trinta anos. Mas não posso fazer nada, só posso desmentir a quem me pergunte. E agora você, a quem lhe perguntarem. Abraços chateados de João Ubaldo", encaminhou, para os amigos.
O começo de tudo - O primeiro texto a circular pela internet com autoria trocada foi "Filtro solar", atribuído a Kurt Vonnegut, mas escrito e publicado por Mary Schmich, colunista do jornal Chicago Tribune. O material em questão foi batido à exaustão no Brasil com a voz de Pedro Bial num clipe (criado pelo cineasta australiano Baz Luhrman),com imagens bonitas e música eletrônica ao fundo. Você deve lembrar: "Usem filtro solar. Se eu pudesse lhes dar uma única dica em relação ao futuro, esta dica seria filtro solar...".
Além da tentação quase irresistível de, com um simples clique do mouse, encaminhar o texto para um monte de gente, Cora Rónai aponta outras motivações para o fenômeno de troca ou supressão de autorias. A primeira intenção seria conferir mais impacto ao material - isso explica, por exemplo, a imensa quantidade de falsos Verissimos no Brasil. Quem resiste ao autor mais amado do país?, ela afirma - e, a segunda, a falta de interesse pelo autor do texto. Ao ler a maioria dos apócrifos que circulam pela internet.br, não é difícil perceber que a confusão raras vezes nasce da maldade ou da simples vontade de passar trotes. Em sua vasta maioria, os textos são cômicos ou motivacionais, `lições de vida´ - o que, sem grandes psicologismos, basta para revelar o que está por trás da falsa atribuição ou do `esquecimento´ do nome do autor: a vontade irrefreável de espalhar conselhos e risadas entre o maior número possível de pessoas, aliada à ignorância e a um senso peculiar do que é direito autoral, acredita Rónai.
Livro: Caiu na rede
Autora: Cora Rónai
Fonte: deaviking.multiply.com
Fonte Imagem: catatau.blogsome.com
Oi linda!
ResponderExcluirMenina ,tenho a maior raiva disso...rs... por isso vou sempe pesquisar a autoria dos textos..
Absurdo ainda maior pra quem cria.
Bj!!!
Ahh.. quantas autorias trocadas há por ai, se eu não tenho certeza sempre coloco "autoria desconhecida", mesmo que seja só por mim.. rs.. alguém vai reconhecer e revelar.
ResponderExcluirVejo muitos e-mails de textos que conheço de autores famosos e assinados por figurantes. Aff.. falta de ética.
Mas eu ri com Jabor sobre a "bunda dura" e o prêmio Jabuti.. rs rs. Eu gosto do texto dele "Viva a batata frita". Muito bom.. rs.
E você, flor, como esta?
Saudades..
Beijão pra vc.
Oiiii
ResponderExcluirHoje é o Blog Day,
veja la no meu blog, coloque o selo no seu também e indique (se quiser) alguns blogs interessantes
http://ronaldinho75.blogspot.com/2010/08/feliz-blog-day.html
bjsss
Grande matéria, parabéns!
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