quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O mito da Mmulher Ttriste


Adoro todos os comentários dessa fantastica jornalista e diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro. Ruth de Aquino ...
Mirtes

Não me convenço de que a mulher seja mais triste que o homem. Ou que a mulher seja hoje mais infeliz que no século passado. Pesquisas com 1.500 pessoas, feitas anualmente de 1972 a 2006 nos Estados Unidos, revelariam essa “crescente tristeza” da mulher e “crescente felicidade” do homem. ÉPOCA publicou reportagem na edição passada sobre isso. Depois, a revista Time deu capa. Antes que todo mundo acredite na tristeza feminina, queria dizer: acordem. Isso não é verdade.

Lembro que minha mãe, hoje com 87 anos, me dizia: “Tenha filhos homens, porque mulher sofre muito. Homem tem mais liberdade”. O tempo dela, em que a mulher não tinha como controlar o número de filhos, precisava pedir dinheiro ao homem, era malvista caso se separasse do marido, enfrentava como dramas seus ciclos biológicos... esse tempo passou. Felizmente.

O estudo “descobriu” que as mulheres estão cada vez mais tristes por uma única medida, totalmente subjetiva. A pesquisa não se baseou em nenhum histórico de internações ou rebeldia no trabalho e em casa. Americanas entrevistadas dizem que estão menos felizes.

Imediatamente, concluiu-se que as mulheres no mundo estão mais tristes que nunca. Homens citam amigas sem namorado como provas irrefutáveis da tese. Alguns dizem que a mulher foi “enganada” pela revolução sexual – talvez a solução fosse ter um homem só a vida inteira. Eles citam a obsessão de uma minoria em parecer mais jovem, recorrendo a cosméticos e plásticas. Especialistas entendem que, claro, foi o feminismo que entristeceu as mulheres. Só pode ter sido o trabalho fora de casa o grande vilão, pela dupla jornada que sobrecarrega a mulher.

Leio as interpretações dessa pesquisa como uma ficção. Tendenciosa. Sou feliz. E não sou exceção. Mulheres bem-sucedidas no trabalho não são necessariamente mais felizes do que donas de casa. Mas o inverso também é falso. O mundo que eu encontro como jornalista nas ruas da minha cidade, nos países que visito, não é de mulheres tristes. Mas de lutadoras. Mulheres inquietas, não acomodadas, que discutem desde a relação amorosa até seu lugar no mundo. Não lhes basta que seu time de futebol ganhe o campeonato para que ela se diga feliz.
Sou feliz – e não sou exceção. O mundo de hoje não
é de mulheres tristes, mas de lutadoras

Mulher reclama mais. Sempre reclamou – isso não mudou. Ela precisou ir à rua, ser presa e espancada para conquistar direito de voto. “É a natureza da mulher”, diz Carmita Abdo, psiquiatra e professora da USP. “Por característica biológica, o homem guarda muito mais o que sente, porque mostrar fragilidades não é viril. A mulher se expressa mais, na alegria ou na tristeza. O fato de ela se questionar mais não pode ser confundido com infelicidade. O dia em que a mulher parar de reclamar, vai enfartar tanto quanto os homens, porque doenças cardiovasculares resultam muito de emoções reprimidas.”

Como no pós-guerra, a mulher foi convocada a trabalhar fora para complementar o orçamento familiar, quem sabe agora, na crise do capitalismo americano, convém espalhar que é melhor ficar em casa? Os índices de desemprego diminuiriam se as mulheres todas resolvessem de novo se domesticar.

Os cursos à noite – de ioga, dança de salão ou filosofia e arte – estão lotados de mulheres depois dos 50. Elas viajam sozinhas ou em grupo. Vivem sete anos a mais do que os homens porque cuidam da saúde. “A mulher, quando se aposenta, vai pintar uma tela, tecer o tapete, aprender jardinagem. O homem se arrepia só de pensar em se aposentar e ficar em casa”, diz Carmita.

Talvez toda a humanidade esteja mais triste e sobrecarregada com a sociedade moderna. Homens e mulheres sentem falta de tempo físico e mental para os filhos e para o lazer absoluto. Há superposição de funções.

Por que as mulheres são tão tristes?

Simone de Beauvoir disse, em O segundo sexo, que a questão da mulher não é a felicidade, mas a liberdade. Dos quase 200 comentários em epoca.com.br, pinço um de Carina, de São Paulo: “Será mesmo que as mulheres eram mais felizes quando tinham que ficar em casa sendo destratadas, traídas, sem liberdade para sair? Para um homem é fácil falar. Eu quero provas”. Carina, não temos provas. Isso é um mito.

Por/ RUTH DE AQUINO
Fonte: www.direitoshumanos.etc.b

Um comentário:

  1. Oi Mirtes. Acho q vou precisar ler outras vezes esse post pra ver se entendo e concorde com o q diz. Mas nessa primeiras leitura me saltaram´, para mim, alguns equívocos, como de vitimizar a mulher na conquista de seus direitos. Nesse quesito o homem foi quem apanhou mais. E o de o homem não demonstrar fragilidade, até no cinema esse mito ja veio por terra, por Clint Eastwood, no seu faroeste Os imperdoásveis. Bjs e tks pelo excelente blog.

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