1944 - E atenção, senhoras e senhores! Chegou o momento da grande atração da noite! Com vocês, a única, a exótica, a mais sexy e corajosa bailarina das Américas! Luz Divina e suas incríveis serpentes! Dora estava fazendo sua estréia como Luz Divina no palco do picadeiro do Circo Pavilhão Azul. Depois de dois anos, dezessete dias e quase uma centena de mordeduras, fazia seu espetáculo na companhia do casal de jibóias Cornélio e Castorina.
1947 - Luz Divina, por sugestão do amigo e palhaço Cascudo, mudaria o nome para Luz del Fuego, nome de um batom argentino recém-lançado no mercado. Segundo seu amigo, “nome estrangeirado atraía público”. Dora gostou da sugestão. A imagem do “fogo” representava bem sua nova opção de vida, já que antes ela era “água viva” (Vivacqua). Luz já havia salvado vários circos da falência com seus espetáculos e era contratada pela primeira vez pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel, donos do Follies, um pequeno teatro em Copacabana. Suas falas - que ela nunca decorava - ficaram sob responsabilidade de um jovem membro da família que, aos doze anos, ingressava na carreira artística: Daniel Filho. O espetáculo Mulher de Todo Mundo fez muito sucesso. As notas na imprensa começaram a aparecer e, ainda que desvinculada do nome Vivacqua, as atividades de Luz causavam incômodo à família. Attilio havia sido eleito senador e ter uma irmã dançarina era um prato cheio para os adversários. Não bastasse isso, Luz resolve publicar seu diário com o título de Trágico Black-Out. Trechos comprometedores, como a sedução pelo cunhado, e fatos que aludiam a uma prostituição assumida davam o tom do livro. Attilio conseguiu comprar mais da metade da edição - mil exemplares - e colocar fogo nos volumes. Na orelha do livro, Luz anunciava um segundo com o sugestivo nome de Rendez-vous das Serpentes. Mas no ano seguinte (1948), ela publicaria A Verdade Nua, também autobiográfico e no qual lançava as bases de sua filosofia naturista. A família não precisou se preocupar desta vez, porque as próprias autoridades deram sumiço no livro. A segunda edição foi vendida por reembolso postal. O dinheiro serviria para arrendar uma ilha na qual instalaria a sede de seu clube naturalista.
1950 - As idéias naturalistas de vegetarianismo e nudismo apresentados em seu segundo ivro começavam a ser colocadas em prática. “Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder”. Luz começou a tornar públicas suas idéias em um país onde ainda não se usava maiô de duas peças nas praias e o culto ao corpo se resumia ao concurso de Miss Brasil. Começou então a reunir um pequeno grupo de amigas na praia de Joatinga, próximo a sua casa na avenida Niemeyer. Apesar de ser uma praia deserta devido ao difícil acesso, Luz levava Domingos Risseto, Miss Gilda e Miss Lana (estes dois, transformistas amigos de Luz), alguns cães e, claro, Cornélio e Castorina, “sua maior garantia contra os abelhudos”. Todo esse cuidado não impediu que a polícia chegasse até lá e levasse todos para a delegacia. Luz percebeu então que o nudismo lhe asseguraria estar em evidência.
Primeira metade dos anos 50 - Luz del Fuego causava furor por onde passava. Do Rio de Janeiro, passou a ser conhecida em todo o país. Seus shows eram garantia de bilheteria certa e levavam todos ao delírio. Era o tempo das vedetes: Mara Rúbia, Virgínia Lane, Dercy Gonçalves e Elvira Pagã, sua maior rival. Luz chegou a ser capa da revista Life, nos Estados Unidos. Doava rendas de seus espetáculos para instituições beneficentes fazendo leilões de si mesma. Foi multada e detida para interrogatórios várias vezes, depois alardeava em praça pública que o delegado - juiz ou prefeito - era muito duvidoso para seu gosto, porque “homem que é homem aprecia a beleza do corpo feminino”. E era detida outra vez, por desacato à autoridade. Seus irmãos se projetavam na política, no comércio e na área artística. O parentesco era inoportuno e eles a perseguiam cada vez mais. Attilio comprava edições inteiras de revista nas quais Luz aparecia e perdeu as eleições para governador no Espírito Santo (o adversário espalhara cabos eleitorais fantasiados de padres que andavam pelo interior do estado apregoando que o senador Vivacqua era irmão de uma mulher demoníaca). Luz tirava proveito da situação e, quando necessitava de dinheiro, ameaçava dançar nua nas escadarias do Senado. Attilio a chamava de chantagista, mas ela dizia que estava apenas cobrando a parte que lhe surrupiaram da herança paterna. Dizia que seu banco preferido era o “Preconceito S.A., de propriedade dos meus irmãos”. Enquanto isso Luz se cercava de amigos homossexuais e de seu principal parceiro no palco, Domingos Risseto. Criou o PNB - Partido Naturalista Brasileiro e conseguiu isto à custa de espetáculos gratuitos, seminua, nas escadarias do Teatro Municipal. Attilio conseguiu que o partido não fosse registrado. Luz seduziu o ministro da Marinha para conseguir a cessão de uma ilha para a sede de sua colônia. Conseguiu a ilha de Tapuama de Dentro, que tinha dois terços de seus oito mil metros quadrados formados de rochas, além de cactos e arbustos secos. Sentiu-se enganada e com vontade de desistir, mas isto não era de sua natureza. “Domingos”, gritou do alto de um rochedo, “não é linda a nossa Ilha do Sol?
Segunda metade dos anos 50 - A Ilha do Sol passou a ser uma das grandes atrações do Rio de Janeiro, apesar de não fazer parte dos roteiros turísticos oficiais. Várias estrelas do cinema americano conheceram a ilha: Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Powel, César Romero, Glenn Ford, Brigitte Bardot e Steve MacQueen, que encerrou sua temporada de uma semana na ilha depois de acordar com uma das jibóias de Luz sobre seu peito. Em 1959, a loiríssima Jayne Mansfield e seu marido aportaram na ilha, mas foram proibidos de descer pois Jayne não queria ficar nua.Anos 60 - Luz passou a viver na e para a Ilha do Sol. Suas reservas financeiras foram terminando, a idade foi chegando e o mito começou a desaparecer. Seus amantes já não eram homens influentes e ricos. Envolveu-se com Júlio, um pescador musculoso e analfabeto, com quem manteve uma relação de muitos meses. Para que ele fosse vê-la diariamente, sustentava sua família em Paquetá. Seu último amor foi o guarda portuário Hélio Luís da Costa. Casado e com dois filhos, mandava o dinheiro de Luz para casa enquanto passava suas folgas na ilha. Os amigos quiseram alertá-la para um possível perigo do envolvimento com pessoas “deste nível”. Ela respondia que não se preocupassem e arrematava: “Eu sou uma Luz que não se apaga”.
Julho/agosto de 1967 - Os irmãos Alfredo Teixeira Dias e Mozart “Gaguinho” armaram uma emboscada para Luz del Fuego no dia 19 de julho de 1967. As ações criminosas de Mozart haviam sido apontadas à polícia por Luz, e ele queria se vingar. Atraiu Luz ao seu barco e a matou. Fez o mesmo com o caseiro Edgar. O crime só foi desvendado duas semanas depois, a partir do depoimento que um coveiro deu aos jornalistas Mauro Dias, do jornal O Dia e Mauro Costa, do jornal Última Hora. Alfredo foi preso e confessou a participação nas mortes. Os corpos foram resgatados no dia primeiro de agosto. Gaguinho escapou de forma espetacular trocando balas com a polícia durante quinze dias. Somente depois de ter matado um cabo foi preso. A morte de Luz del Fuego poderia não importar à polícia, mas a de um colega militar, em plena ditadura, era algo imperdoável. Gaguinho foi preso e, junto com o irmão, condenado à pena máxima. Cumpriu sua pena no manicômio judiciário do Rio de Janeiro. Alfredo converteu-se a uma igreja evangélica e buscou o arrependimento e o perdão através de uma missionária de nome Dora. Ditou a um colega de cela os detalhes de seus crimes e chamou o relato de A Tragédia da Ilha do Sol.
1947 - Luz Divina, por sugestão do amigo e palhaço Cascudo, mudaria o nome para Luz del Fuego, nome de um batom argentino recém-lançado no mercado. Segundo seu amigo, “nome estrangeirado atraía público”. Dora gostou da sugestão. A imagem do “fogo” representava bem sua nova opção de vida, já que antes ela era “água viva” (Vivacqua). Luz já havia salvado vários circos da falência com seus espetáculos e era contratada pela primeira vez pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel, donos do Follies, um pequeno teatro em Copacabana. Suas falas - que ela nunca decorava - ficaram sob responsabilidade de um jovem membro da família que, aos doze anos, ingressava na carreira artística: Daniel Filho. O espetáculo Mulher de Todo Mundo fez muito sucesso. As notas na imprensa começaram a aparecer e, ainda que desvinculada do nome Vivacqua, as atividades de Luz causavam incômodo à família. Attilio havia sido eleito senador e ter uma irmã dançarina era um prato cheio para os adversários. Não bastasse isso, Luz resolve publicar seu diário com o título de Trágico Black-Out. Trechos comprometedores, como a sedução pelo cunhado, e fatos que aludiam a uma prostituição assumida davam o tom do livro. Attilio conseguiu comprar mais da metade da edição - mil exemplares - e colocar fogo nos volumes. Na orelha do livro, Luz anunciava um segundo com o sugestivo nome de Rendez-vous das Serpentes. Mas no ano seguinte (1948), ela publicaria A Verdade Nua, também autobiográfico e no qual lançava as bases de sua filosofia naturista. A família não precisou se preocupar desta vez, porque as próprias autoridades deram sumiço no livro. A segunda edição foi vendida por reembolso postal. O dinheiro serviria para arrendar uma ilha na qual instalaria a sede de seu clube naturalista.
1950 - As idéias naturalistas de vegetarianismo e nudismo apresentados em seu segundo ivro começavam a ser colocadas em prática. “Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder”. Luz começou a tornar públicas suas idéias em um país onde ainda não se usava maiô de duas peças nas praias e o culto ao corpo se resumia ao concurso de Miss Brasil. Começou então a reunir um pequeno grupo de amigas na praia de Joatinga, próximo a sua casa na avenida Niemeyer. Apesar de ser uma praia deserta devido ao difícil acesso, Luz levava Domingos Risseto, Miss Gilda e Miss Lana (estes dois, transformistas amigos de Luz), alguns cães e, claro, Cornélio e Castorina, “sua maior garantia contra os abelhudos”. Todo esse cuidado não impediu que a polícia chegasse até lá e levasse todos para a delegacia. Luz percebeu então que o nudismo lhe asseguraria estar em evidência.
Primeira metade dos anos 50 - Luz del Fuego causava furor por onde passava. Do Rio de Janeiro, passou a ser conhecida em todo o país. Seus shows eram garantia de bilheteria certa e levavam todos ao delírio. Era o tempo das vedetes: Mara Rúbia, Virgínia Lane, Dercy Gonçalves e Elvira Pagã, sua maior rival. Luz chegou a ser capa da revista Life, nos Estados Unidos. Doava rendas de seus espetáculos para instituições beneficentes fazendo leilões de si mesma. Foi multada e detida para interrogatórios várias vezes, depois alardeava em praça pública que o delegado - juiz ou prefeito - era muito duvidoso para seu gosto, porque “homem que é homem aprecia a beleza do corpo feminino”. E era detida outra vez, por desacato à autoridade. Seus irmãos se projetavam na política, no comércio e na área artística. O parentesco era inoportuno e eles a perseguiam cada vez mais. Attilio comprava edições inteiras de revista nas quais Luz aparecia e perdeu as eleições para governador no Espírito Santo (o adversário espalhara cabos eleitorais fantasiados de padres que andavam pelo interior do estado apregoando que o senador Vivacqua era irmão de uma mulher demoníaca). Luz tirava proveito da situação e, quando necessitava de dinheiro, ameaçava dançar nua nas escadarias do Senado. Attilio a chamava de chantagista, mas ela dizia que estava apenas cobrando a parte que lhe surrupiaram da herança paterna. Dizia que seu banco preferido era o “Preconceito S.A., de propriedade dos meus irmãos”. Enquanto isso Luz se cercava de amigos homossexuais e de seu principal parceiro no palco, Domingos Risseto. Criou o PNB - Partido Naturalista Brasileiro e conseguiu isto à custa de espetáculos gratuitos, seminua, nas escadarias do Teatro Municipal. Attilio conseguiu que o partido não fosse registrado. Luz seduziu o ministro da Marinha para conseguir a cessão de uma ilha para a sede de sua colônia. Conseguiu a ilha de Tapuama de Dentro, que tinha dois terços de seus oito mil metros quadrados formados de rochas, além de cactos e arbustos secos. Sentiu-se enganada e com vontade de desistir, mas isto não era de sua natureza. “Domingos”, gritou do alto de um rochedo, “não é linda a nossa Ilha do Sol?
Segunda metade dos anos 50 - A Ilha do Sol passou a ser uma das grandes atrações do Rio de Janeiro, apesar de não fazer parte dos roteiros turísticos oficiais. Várias estrelas do cinema americano conheceram a ilha: Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Powel, César Romero, Glenn Ford, Brigitte Bardot e Steve MacQueen, que encerrou sua temporada de uma semana na ilha depois de acordar com uma das jibóias de Luz sobre seu peito. Em 1959, a loiríssima Jayne Mansfield e seu marido aportaram na ilha, mas foram proibidos de descer pois Jayne não queria ficar nua.Anos 60 - Luz passou a viver na e para a Ilha do Sol. Suas reservas financeiras foram terminando, a idade foi chegando e o mito começou a desaparecer. Seus amantes já não eram homens influentes e ricos. Envolveu-se com Júlio, um pescador musculoso e analfabeto, com quem manteve uma relação de muitos meses. Para que ele fosse vê-la diariamente, sustentava sua família em Paquetá. Seu último amor foi o guarda portuário Hélio Luís da Costa. Casado e com dois filhos, mandava o dinheiro de Luz para casa enquanto passava suas folgas na ilha. Os amigos quiseram alertá-la para um possível perigo do envolvimento com pessoas “deste nível”. Ela respondia que não se preocupassem e arrematava: “Eu sou uma Luz que não se apaga”.
Julho/agosto de 1967 - Os irmãos Alfredo Teixeira Dias e Mozart “Gaguinho” armaram uma emboscada para Luz del Fuego no dia 19 de julho de 1967. As ações criminosas de Mozart haviam sido apontadas à polícia por Luz, e ele queria se vingar. Atraiu Luz ao seu barco e a matou. Fez o mesmo com o caseiro Edgar. O crime só foi desvendado duas semanas depois, a partir do depoimento que um coveiro deu aos jornalistas Mauro Dias, do jornal O Dia e Mauro Costa, do jornal Última Hora. Alfredo foi preso e confessou a participação nas mortes. Os corpos foram resgatados no dia primeiro de agosto. Gaguinho escapou de forma espetacular trocando balas com a polícia durante quinze dias. Somente depois de ter matado um cabo foi preso. A morte de Luz del Fuego poderia não importar à polícia, mas a de um colega militar, em plena ditadura, era algo imperdoável. Gaguinho foi preso e, junto com o irmão, condenado à pena máxima. Cumpriu sua pena no manicômio judiciário do Rio de Janeiro. Alfredo converteu-se a uma igreja evangélica e buscou o arrependimento e o perdão através de uma missionária de nome Dora. Ditou a um colega de cela os detalhes de seus crimes e chamou o relato de A Tragédia da Ilha do Sol.
FONTE: Livro "Luz Del Fuego" de Cristina Agostinho
"Eu nasci, e nu me encontro: não perco nem ganho." (Miguel de Cervantes)
Bjs
teve um filme dela, com Lucelia santos no papel...
ResponderExcluirA mulher que aparece na foto em preto e branco não é Luz del Fuego, é Mata Hari (?????)
ResponderExcluirFaço uma homenagem ás duas no meu blog.
Luz Del fuego nasceu no ano da morte de Mata Hari. As duas foram assassinadas!!!!!!!!!!!!!!!
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